19 de março de 2009

FSM 2009 CHEGA AO FIM - “Foi o primeiro passo para um novo modelo de desenvolvimento”

O último dia do Fórum Social da Amazônia foi o momento de unificar todas as propostas e reafirmar as principais lutas que serão intensificadas neste ano de 2009. Depois de encontros entre movimentos sociais e organizações convergentes durante a manhã, a tarde do domingo 1° de fevereiro foi dedicada à assembleia das assembleias.
As alianças construídas, as novas temáticas que surgiram e as ações coletivas que foram definidas puderam ser socializadas na Praça das Convergências, um palco ao ar livre na UFRA. Uma das propostas foi a criação do Fórum Brasileiro de Gênero, Educação e Diversidade Sexual. Segundo os participantes da oficina Gênero e Diversidade Sexual no Ambiente Escolar, preconceitos são reproduzidos porque o corpo docente das escolas brasileiras não possui informações necessárias para trabalhar as questões de gênero e diversidade sexual.
Outros eixos de discussão destacados foram a criminalização dos movimentos sociais, o trabalho escravo, a legalização e a descriminalização do aborto, a livre expressão e orientação sexual (foi exigida a aprovação do PLC 122, sobre a criminalização da homofobia), a proteção de crianças e adolescentes.
Frustração e esperança
O sociólogo Emir Sader se mostrou frustrado. "O Fórum poderia deixar um recado melhor, mas está girando em falso. Precisa se renovar." Ele fez duras críticas à presença maciça de ONGs e aos poucos movimentos sociais. E questionou: "Onde estão as massas que as ONGs são capazes de mobilizar? Quem deve fazer o Fórum são os movimentos populares."
Defendeu ainda um espaço maior para os governos: "O Evo Morales não deveria ter vindo apenas para as reuniões com os presidentes, deveria ter vindo até aqui, mostrar as experiências que a Bolívia está vivendo como o regime democrático mais legitimado da América Latina", opinou.
Houve quem avaliasse esse FSM com mais otimismo, considerando que ele renovou as perspectivas do encontro, já que nos últimos anos dava sinais de esgotamento. Em Nairóbi (2007) até empresas privadas financiaram o evento. Para o professor mexicano, Henrique Navarro, o FSM "é a única instância internacional de ativismo e um foco importante de irradiação de ideias". Além disso, "a presença de cinco presidentes latino-americanos mostra que a reunião ainda influencia a tomada de decisões políticas".
A crise global como oportunidade
Segundo os organizadores, o objetivo do FSM seria mesmo influenciar as políticas públicas, definindo a agenda dos governos. "Enquanto o Fórum Econômico de Davos direciona a economia mundial sob a ótica do trabalho subjugado ao capital, o Fórum Social Mundial deve direcionar as políticas públicas sob a ótica do trabalhador."
Para a representante da Comunidade Européia, a italiana Raphaela Bolini, a versão amazônida do FSM foi mais importante pelo significado simbólico do que por apresentar resultados práticos. "A reunião de povos do mundo todo no momento em que o modelo econômico neoliberal entra em crise e se mostra fracassado simboliza a emergência de um mundo diferente", disse. O encontro em Belém seria o primeiro passo para a busca de modelos econômicos e sociais não excludentes.
A crise global foi aqui entendida como uma oportunidade: se não for a esquerda a apresentar rapidamente soluções mobilizadoras, outros o farão. Na assembleia onde se discutiu a relação entre crise, globalização e trabalho, reivindicou-se um novo paradigma de sociedade, que não se limite a exigir mais regulação.
Na atividade organizada pelo CFESS, Ivanete Boschetti e Valério Arcary defenderam uma valorização do valor de uso em relação ao valor de troca, a radicalização da democracia e um novo conceito de desenvolvimento que leve à socialização da riqueza.
A nona edição do Fórum Social Mundial teve 135 mil participantes de 142 países. Quase 2 mil eram indígenas de 120 etnias diferentes. E 1400 eram quilombolas. Cerca de 4 mil organizações participaram dos debates, a maioria da América Latina, mas tinham também representantes da África, Ásia, América do Norte, América Central e Oceania.
Bruno Costa e Silva - Assessor de Comunicação/CFESS

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